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sábado, 28 de abril de 2018

Maceió: uma análise pessoal e inquieta




O Blog tem o prazer de apresentar textos de Roberto Costa Farias, reconhecido e premiado arquiteto de Alagoas,  amigo pessoal e inquieto analista de Maceió.



Sumário
1.0 - CENTRO DE MACEIÓ – NÚCLEO HISTÓRICO. 2.0 - RESTAURAÇÃO  E   IDENTIDADE.  3.0 - DEGRAU UM

Roberto Costa Farias  



Arquiteto e Urbanista, UFAL, 1993.  Instituições; Empreendimentos Turísticos e Comerciais; Orlas: Paripueira; Maceió (Cruz das Almas a Jacarecica); Porto de Pedras; Conselho de Farmácia; Masterplan Porto Calvo; Memorial Graciliano Ramos em Quebrangulo; Masterplan do Rio Maceió;  Projetista da aRies Arquitetura Ideias Estudos Soluções; Projetista da Linha Maceioca. Premiações: Casa Cor Alagoas de 2015  Hall SEBRAE,;  Casa Cor Alagoas 2014  Champagneria; Menção Honrosa Projeto de Restauro da Sede do Arcebispado de Maceió, conferido pelo IAB de Alagoas, 2007;  1º Prêmio Stand FME– SEBRAE – AL, 1994; e o 1º Prêmio Abrigos de Ônibus da Cidade de Maceió pela SMDU, 1990.

  
Recentemente publicou um livro que está a venda em DIALÉTICA - SEBO E LIVRARIA, RUA DO URUGUAI, 110 - JARAGUÁ   e do qual estamos publicando alguns textos. Vale a pena ler com cuidado, as observações do Roberto e adquirir um exemplar de Abrigo do Oficio, que traz o prefácio escrito por outro amigo: Paulo Caldas.Um grande abraço

Sávio

1.0 - CENTRO DE MACEIÓ – NÚCLEO HISTÓRICO

Em que pese o magnífico incremento que o bairro de Jaraguá, vem dando ao processo de revitalização e redescoberta de valores da Cidade Sorriso, não devamos nos iludir; Maceió começou mesmo foi no Centro.
Nossa prosa versará exatamente sobre este tradicionalíssimo bairro, onde o perfil de outrora nos mostra o caráter comercial e residencial que determinou sua ocupação inicial. O Núcleo da Cidade que se iniciou na segunda metade do século XVIII, e desenvolveu-se sobremaneira durante o século XIX, constituiu-se, num primeiro momento em largos que originaram três grandes praças: A provável localização do primeiro engenho Massayó (e seu pelourinho); hoje praça D. Pedro II com uma concentração monumental no entorno, o sobrado onde o Monarca se hospedou; agora Biblioteca e Arquivo Público (tombado); a sede da Assembleia Legislativa (infelizmente ainda não tombado); Catedral Metropolitana (tombada) e o prédio da receita Federal.
Percebe-se claramente aí que o Centro situa-se no platô intermediário ao planalto do Farol e a planície costeira lagunar. Outro marco importante do traçado urbano da nossa Capital, a praça Marechal Deodoro, ostenta estátua equestre do filho ilustre das Alagoas, está entretanto descaracterizada de sua original concepção por conta da pavimentação adotada, que dificulta o passeio. Em seu redor encontramos nosso imponente Teatro Deodoro, restaurado, revitalizado e funcionando a pleno vapor, defronte deste, o prédio da Academia Alagoana de Letras (antiga escola, e atualmente oferecendo especialização em literatura, segundo seu notável presidente Ib Gatto, a direita desta o Tribunal de Justiça, devidamente preservado, evidenciando sua monumentalidade. Neste conjunto temos a chancela do Tombamento para as três edificações.
E finalmente o Largo de Bom Jesus dos Martírios, defronte a Igreja do mesmo nome (com fachada em azulejos portugueses), determinado pela Cambona, ou quebrada, curva na linha topográfica que marcava o caminho arcaico de tropeiros e alimárias que transitavam por Bebedouro. Neste logradouro temos a praça Marechal Floriano Peixoto (também conhecido por marechal Mão de Ferro), cercada por belíssimos exemplares arquitetônicos; Palácio do Governo (nossa casa branca), Museu Pierre Chalita de Arte Sacra; uns poucos elementos do casario, em especial um sobrado colonial, a intendência, prédio concebido por Rosalvo Ribeiro (grande pintor alagoano), recentemente restaurado, abrigando novamente a prefeitura de Maceió, transformando o foco sobre a área como uma referência cívica, uma vez que a rua que separava a praça do palácio, não mais existe, em seu lugar 102 mastros com as bandeiras de cada município de Alagoas, promovem a Troca da Guarda, assistida por nativos e turistas em multidão. A Fonte Luminosa foi recuperada e voltou a deixar engalanada a praça. Finalmente a remoção de depauperados barracos, o coreto oferece ao transeunte, café, lanches e pausa para uma boa prosa.
Convém salientar que, identificamos outros logradouros com belo entorno, mas ainda não tiveram as atenções voltadas, embora não estejam de todo abandonados, carecem de cuidados: a praça do Montepio dos Artistas cujas proximidades se situam a loja maçônica Virtude e Bondade; o antigo Hotel Lopes (que já funcionou como ponto rodoviário), hoje dividido e setorizado (sistema terceirizado de aluguel) pintado de cores diferentes mas, forte e ainda de pé; o Montepio dos Artistas; e dois prédios do século XX que merecem figurar como antecessores do movimento Moderno, talvez protomodernistas: a sede da OAB-AL e o Edifício Brêda.
Há ainda as praças: Afrânio Jorge (da Faculdade); Visconde de Sinimbu; Das Graças; Moleque Namorador (quartel general do frevo no carnaval), Parque Rio Branco e uma rua essencialíssima por sua arborização inconteste de oitizeiros e consequente climatização é já uma praça também: Rua Augusta das Árvores.
Temos ainda no Centro Histórico as igrejas de São Benedito; Livramento; Rosário (outro dia li notícia que jovens de Salvador estão sendo treinados, como Sineiros, para soar o Ângelus pontualmente às dezoito horas diariamente), e elegantes sobrados em estilos diversos: ecléticos; neoclássicos; coloniais e até neogóticos.
Existe também muitas pressões especulativas que buscam o esvaziamento (necessidade de estacionamento), e paralelamente uma forte resistência dos proprietários em relação a preservação de fachadas e a volumetria das cobertas.
Necessitamos conhecer bem, para amar e apaixonados sonhar; sonhos onde a onda revitalizadora de Jaraguá caminhe pela praia da Avenida da Paz e emende-a com o Centro, ampliando pelo Mercado, Vergel, Bebedouro e subindo as encostas chegue ao Farol.
Realizar-se-á uma sutil combinação entre o passado e a vanguarda que fomentará a sobrevivência econômica desses locais, recuperação e manutenção, atividades culturais, entretenimentos, negócios, lazer, e diversão. No claro processo de intensificação e reciclagem, alternâncias de horários visando valorizar estilos e composições; limpeza; critérios imperiosos. Aí sim, teremos uma identidade fortalecida e coerente. Aí sim, teremos para dar e vender. Aí sim, seremos produto de exportação.
RCF, Págs 46 e 47 guia Ensaio ed, 05 ano II nº 02 out 2001

2.0 - RESTAURAÇÃO  E   IDENTIDADE

O patrimônio arquitetônico de Alagoas detém notável valor histórico e cultural. Por nossa terra Mãe ficaram marcas de ibéricos, holandeses, africanos, ingleses, franceses e caétes nativos, além de prováveis outros povos. É fato que a ação depredadora do homem que o construiu, ao longo de muitas décadas, tem servido para desvirtuar, descaracterizar e até mesmo destruir este tesouro arquitetônico edificado a partir do século XVII. Alagoas, terra de ideais libertários, de Domingos Calabar e Zumbi.
No segundo quartel do século XVIII, cresceu Maceió, fundada numa senzala de engenho Banguê, sob os auspícios de São Gonçalo edificou-se a primeira capela, em 1840. Neste mesmo sítio ergueu-se a Catedral Metropolitana que na missa inaugural teve a honra de acomodar o Imperador Pedro II e comitiva, “TE DEUM” em 31 de dezembro de 1859. Alagoas, berço de iguais e libertos: Graciliano Ramos; Jorge de Lima; Lêdo Ivo; Nise da Silveira; Aurélio Buarque; Linda Mascarenhas; Vera Arruda; Pontes de Miranda; Guimarães Passos; Tavares Bastos; Théo Brandão; Guedes Miranda; Thomaz Espíndola; Otávio Brandão; Pimentel Amorim; Rosa da Fonseca; Zé Maria de Melo; Aloísio Vilela; Dandara; Camôcho Moraes Abelardo Duarte; Jayme de Altavila; Pedro Teixeira; Maria Mariah; Ana Cansanção Lins; Deodoro; Floriano e tantos outros.
Essa breve iniciação histórica servirá para nos mostrar como anda o processo de proteção que nossa arquitetura patrimonial tanto clama. Em Jaraguá, se respiram brisas marinhas, regadas à velha e boa boêmia, verdadeiramente de regresso... e banhada em festejos e progresso. Quatro são os baluartes maiores que deflagram o mote revitalizador e protecionista da boa arquitetura:
ASSOCIAÇÃO COMERCIAL
Extraordinário monumento de linhas neoclássicas, concluído em 1928, para abrigar o Palácio de Comércio. Suas fachadas simétricas evocam a linguagem da arquitetura clássica grega. Talvez por isso tenha despertado a ira de Lúcio Costa que ao avistar o bairro de Jaraguá da embarcação que o trazia a Maceió, notou que a monumentalidade deste, conflitava com o entorno. Com o passar dos anos tornou-se imperativo iniciar a revitalização do bairro, justo como o marco inicial, atualmente é referência para a cidade apoiando diversos eventos no campo das artes, da cultura, da política e da economia.
MUSEU DA IMAGEM E DO SOM (MISA)
Construído no governo provincial de José Bento da Cunha Figueiredo Jr. Em 1869. Foi inicialmente, sede do Consulado Provincial e, posteriormente, Recebedoria Central da Província. Passou por várias reformas, teve usos secundários e esteve fechado durante vários anos. No entanto as obras de recuperação preservaram características de época, devolvendo à comunidade a beleza arquitetônica do bem. Com sua instalação bastante agradável entre praças, o museu em breve voltará a dispor seu importante acervo que esta sendo recuperado. No momento tem sediado importantes exposições e seminários.

MUSEU THÉO BRANDÃO

Prédio em linguagem eclética, construído entre 1914 e 1915. O palacete possui a fachada principal em disposição simétrica, acrescida de cúpula na lateral esquerda. Sacadas com guarda corpos em balaústres, onde, no trecho central aparecem esculturas humanas com bustos femininos descobertos, qual atlantes. A platibanda é formada por elementos em relevo, na técnica de estuque com função ornamental de resguardar a vista da coberta. Em muito breve poderá mostrar todo seu acervo que está sendo higienizado.
INTENDÊNCIA MUNICIPAL
O prédio localizado na praça Marechal Floriano Peixoto no centro da cidade, teve planta concebida pelo pintor deodorense Rosalvo Ribeiro, nota-se as esquadrias em arcos ogivais, linguagem neogótica (provavelmente transcritas de sua estada em Paris). Desde 1903 foi a sede da Intendência ou Prefeitura (é conveniente registrar que a primeira exibição de filme no estado deu-se aí, no chamado Cinematógrafo). Na década de 1940 passou assediar a SAEM (Serviços de Água e Esgoto de Maceió) que posteriormente se tornou CASAL (Companhia de Abastecimento de Água e Saneamento de Alagoas).Várias e sucessivas reformas imprimiram violentas descaracterizações internas. As obras de restauração lhe devolveram a função original: Sede da Prefeitura Municipal de Maceió. Neste momento é importante como marco zero da revitalização do Centro.
Dentre os bens arquitetônicos que respaldam a conceituação de patrimônio histórico, quatro belas edificações já foram contempladas com a restauração e revitalização, fruto do empenho do Governo, da Prefeitura e suas equipes. Em que pese o esforço titânico para a consolidação de nossa identidade através destes tesouros, é importante que este número sempre cresça no sentido da constante ampliação e do desenvolvimento com este compromisso de salvaguarda, possibilitando aos de hoje e aos de amanhã uma visão não só do pensamento protecionista, ora praticado, mas também uma prática que seja referendada e ampliada para trazer de forma inerente possibilidades de criações futuras, sem a perda de tecnologias ancestrais como atualmente ocorre. É imperativo o emprego de forças de salvaguarda cuja missão extrapola o imediatismo corrente, e trará uma gloriosa raiz que se estenderá infinitamente aos muitos dias que virão. Alagoas, terra de estrela radiosa aos quatro ventos faz ecoar sua auspiciosa música, seus instrumentos ressoam, seus sons. Eternos sons como os de Heckel Tavares, Hermeto Paschoal e Djavan. Vida longa à nossa terra e aos nossos valores mais sagrados.
RCF, Página 14 e 15, Guia Ensaio, ed. 01 ano I nº1 março 2002 Maceió Alagoas Distribuição Gratuita

3.0 - DEGRAU UM

A Maceió da minha infância foi um dos melhores registros da memória infanto juveni
l: Entre 1965 à 1980, pode-se comprovar por fotografias e pelo modus vivendi dos cidadãos o desenvolvimento do modelo dicotômico campo x cidade ou como mais comumente os tratadistas de hoje comentam: a oposição entre o rural e o urbano.
Ao crescer no bairro do Farol, outrora conhecido como “Planalto do Jacutinga”, assim mesmo numa reveladora toponímia de parte alta bem como a denominação da ave, de modo a mostrar quem dominava estes territórios, tive a enorme e proveitosa oportunidade de estender a apropriação da localidade e de seu entorno à pé, de bicicleta e em carona nas carroças de prestadores de serviços.
Citado na introdução; a apreensão de uma localidade, desde a mais tenra idade se dar por todos os meios disponíveis e os cinco sentidos se encarregam desta tarefa prazerosa. Maceió da minha infância fez passar pelos ouvidos pregões “olha a banana”; “olha o verdureiro”; “macaaaxeeeira”; “Olha freguês”; “Mais que hora, está tão bom, como está gostoso”; buzinas de bicicletas com balaios de pão; realejo do amolador de facas e tesouras; triângulos dos vendedores de cavacos; gorjeios, cantos e chilreios de variadas espécies de pássaros; comparados a hoje, os automóveis tinham cadência em seus ruídos pois eram descontinuados no tráfego passando e demorando a passar, indo, hiato, vindo. Havia novelas, programas de auditórios, músicas, os reclames, o futebol e notícias que o rádio transmitia cotidianamente: “É gol, que felicidade, o meu time é alegria da cidade”, repórter Esso e principalmente “Manhãs Brasileiras”, ouvia com atenção Edécio Lopes e Floracy Cavalcanti
Se minhas orelhas captavam, as narinas não deixavam para menos. Logo cedo estabeleci um vínculo entre olfato e memória, que ainda hoje consegue me transportar a situações vividas e lugares conhecidos, desde o simples ato de abrir uma gaveta ao de aspirar o perfume de uma flor. O Farol da minha memória rescende a jasmim, principalmente no alvorecer.  O cheiro de bife de panela com batatas da casa de vovó Zulma em contraponto e associação com o bife acebolado de vovó Nilda, a fala perfumada de Mamãe, o cheiro de carro novo, a minha relutância em aceitar barrufos de talco após o banho, cheiro de merthiolate, de periatrin, hipoglos, e da linha johnsons. Cheiro de sopa, de feijão de doce de jaca de abacatada de vitamina de banana de tanta coisa. Mais tem até hoje o campeão dos cheiros: é o de chuva, de terra molhada pela chuva.
Falando em comida, não por trauma ou vingança, começo a lembrar do engula o choro, quando este recurso era acionado. Mas lembro dos picolés e sorvetes da Gutgut, da Kibon e da Maguary, era moda naqueles tempos nos aniversários se deixar à disposição das crianças nas festinhas e aniversários um carrinho cheio, à mão. Lembro de meu tio Nicanorzinho, mexendo comigo e aí, quantos picolés? “doze”, Doze? É tio, não chupei mais porque estou um pouco resfriado.
E a vista, até onde a minha alcançava? Maceió sempre foi e será para mim paisagem: O contemplar de seus mirantes, o por do sol nas lagoas, o verde esmeralda e azul safira das praias de Pajuçara, Ponta Verde, Jatiúca, Guaxuma, Pratagy e Avenida. A revoada pontual durante o início crepuscular de andorinhas, o verde das árvores de quintais com muros baixos, os vendedores ambulantes, as praças Sinimbú, Centenário, Deodoro, Montepio, Dois Leões, Gonçalves Lêdo, o mercado da produção, o centro com o comércio, uma rua cheia de bancos, uma cheia de árvores, outra ainda, repletas de casas. Ruas com hospitais e escolas
Do tato, artefato. Muitos dos meus brinquedos e brincadeiras vinha de maquinações, e nisto meu maior suporte foi inegavelmente a revistinha recreio. Carrinhos de latas de oléo com rodinhas de borracha das gastas sandálias havaianas; estilingue cuja forquilha de galho de goiabeira; pifes de taboca e mamoeiro; tato é bicho do pé e larvas migrans, dá-lhe tiabena. Tato é cimento, cal e areia lavada. Tato é banho de mar, de lagoa, de bica, de mangueira, de lama, de maizena, de piscina, de chuva e de sol.
Olfato, tato, paladar, visão e audição é ir e voltar para a escola à pé. É subir em árvores para colher frutos e comê-los. É andar até o centro e voltar de ônibus, para com o dinheirinho da passagem economizado comprar na venda as figurinhas do álbum da vez. É apostar corrida e se esconder nos trinta e um alerta, no batido salve todos. É corar quando ver a paquera. É brincar despreocupadamente com as primas do vizinho que vieram de férias de pera, uva e maçã. É pintar a rua em frente o palácio do governo no encerramento do ano letivo. É montar a cavalo, pescar e fachiar, é ouvir causos de “Camões, do “Reis” e do “Malasarte”. É ir a missa, agradecer e ter horror aos pecados, é colocar uma peça de roupa estendida para secar, é beber água da torneira após o “racha”, é ver seu time jogar completo num gramado perfeito, é assistir Daniel Boone e outros faroestes na tv, é assistir no Lux, Catherine Deneuve em Pele de Asno, é ver festival Tom & Jerry. Assistir retreta no coreto, desfiles de sete e dezesseis de setembro, dar banho no seu cachorro. Parar um taxi e se esconder. Ter receios do papa figo. Espremer tumores e perder as tampas das feridas nas quedas em calçadas de cimento. Tomar injeção com a Jandira. Comprar no Pedro Rico. Colecionar trocos do seu Miranda. Agitar uma bandeira da pátria diante dos restos mortais de D. Pedro I. Como pseudo juiz de paz casar sua paquera com seu melhor amigo nos festejos de São João, São Pedro e São Antônio. Ganhar um jogo de basquete no último minuto por diferença de um ponto com um arremesso seu. Atender uma ligação telefônica para você quando o telefone possuía quatro dígitos. Fazer picnic. Forçar revoadas de morcegos. Costurar o próprio bisaco. Assistir o parto de animais. Assistir junto com o por do sol revoada de andorinhas. Colher donativos para os mais necessitados. Subir nos telhados. Desenhar mapas.
Neste contar há no meu coração, na minha mente, no meu espírito a salutar marca que as pessoas deixaram; gosto de gente e entendo que gente tem gosto: Gosto de não quero sair de perto, gosto de travo, gosto de carinho, compreensão e zelo, gosto de risco, gosto de saudade, de boas lembranças de delícias de falta algo de evitar de graça de esquisito de cordialidade de gentileza de atenção de esquecimento de gostar mesmo de sem explicação de nenhuma explicação de explico não.
Registro que para todas essas “aventuras” havia uma conexão entre quintais e a Carrapateira, fazenda em Quebrangulo, onde a minha satisfação era tão plena que só pensava em quando morrer ser enterrado naquela propriedade.
Registro ainda como foi bom crescer nas Alagoas.
 RCF, Maceió 18\08\2014

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