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sábado, 17 de dezembro de 2016

Quando os estudantes ensinam: pelo direito de ocupar

G1 Al




Quando os estudantes ensinam: pelo direito de ocupar


Karen

Karen Daniele de Araújo Pimentel 

é estudante de Direito e membro do Núcleo de Estudos em Direito Internacional e Meio Ambiente – NEDIMA/UFAL,  membro do Conselho da Editora Agência Fonte de Notícias

Lucas Isaac Soares Mesquita

 é advogado e pesquisador do Núcleo de Estudos em Direito Internacional e Meio Ambiente – NEDIMA/UFAL













Em 2015, explodiram em São Paulo as ocupações de escolas públicas contra o desmonte da educação pretendido pelo governo do estado. Emergia novamente um sujeito político conhecido nas mobilizações coletivas, o movimento estudantil, especificamente o movimento secundarista. Foram mais de 200 escolas ocupadas, a mobilização dos/as estudantes do ensino médio também tomou as ruas e foi uma resposta de organização coletiva e horizontal frente aos ataques promovidos pelas mãos do Estado. Neste ano, voltam à cena as ocupações estudantis contra os ataques à educação promovidos pelo governo de Michel Temer: sua reforma da educação, o projeto de lei “Escola Livre”, também conhecido como a Lei da Mordaça e a Proposta de Emenda à Constituição – PEC 55, ajuste fiscal que estanca os investimentos públicos por até 20 anos, afetando especialmente a educação. Na votação da PEC em primeiro turno no Senado, os manifestantes contra a sua aprovação foram duramente reprimidos pela polícia, entre eles estavam diversos estudantes que ocupavam suas escolas e foram à Brasília representar o movimento estudantil secundarista contra as medidas de austeridade do governo Temer.

Desta vez as ocupações se espalham por todo o país, com mais de duas mil escolas ocupadas, sendo a maior parte delas concentrada no estado do Paraná. Em Alagoas, foi seguida a tendência nacional, com escolas públicas ocupadas no interior do estado, destacados os campi do Instituto Federal de Alagoas – IFAL, além da ocupação da UFAL, promovida pelo movimento estudantil universitário. Cada campus elaborou reivindicações próprias, que vão desde a estrutura dos laboratórios, condições sanitárias, acesso à agua potável, até questões mais complexas que envolvem participação estudantil nas auditorias e gestão pública dos restaurantes. As ocupações nos diversos campi do IFAL seguem as pautas nacionais de luta das ocupações estudantis, mas também têm pautas próprias, relacionadas à realidade das condições de ensino nos institutos federais de educação em Alagoas.

As ocupações trazem ao panorama social brasileiro uma nova forma de fazer política, protagonizada por estudantes jovens, a maioria abaixo dos 18 anos de idade. Junto às proporções que tomaram, veio a resposta repressiva do Estado, acionados o Poder Judiciário e a força policial. Em nosso estado, foram expedidas pela Justiça Federal decisões liminares pela reintegração de posse dos campi do IFAL, o que acarretou na desocupação dos institutos, permanecendo ocupado apenas o campus de Murici. Quanto à ocupação da UFAL, não foi realizado pedido de reintegração de posse pela reitoria da universidade, permanecendo ativa a ocupação. A partir desse cenário, o debate central que se coloca é qual seria a atuação esperada de um Estado Democrático de Direito frente às mobilizações estudantis em forma de ocupação. Nesse sentido, este volume do Campus foi pensado para entender a relação entre Direito, Poder Judiciário e mobilizações estudantis.


Para isso, foram ouvidos dois advogados ativistas que atuaram junto às ocupações estudantis no Paraná, Clarissa Maçaneiro Viana e Lawrence Estivalet. Ambos são membros do coletivo Direito para Todxs (a letra “x” é utilizada para integrar os dois gêneros na mesma palavra), formado por advogados e bacharéis em direito que atuam com apoio jurídico às mobilizações populares, em defesa do direito à liberdade de manifestação e organização política. Os dois falaram sobre a importância do papel do advogado na defesa das liberdades constitucionais, além de repassar instruções importantes quanto à atuação frente ao poder policial. Trazendo a visão desde o Poder Judiciário, esse volume também conta com a contribuição de Lucas Farias, supervisor judiciário e ativista pelos direitos humanos, falando sobre a importante lição que os estudantes secundaristas têm a ensinar para a atuação da Justiça frente à mobilização popular.

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