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sábado, 18 de junho de 2016

Memória e sons. A canção de amor de meus pais.



            
           Toda casa tem música entranhada na memória e para as mais antigas é uma modinha, uma valsa. O tempo vai passando, novas pessoas cantam coisas novas e assim, o som vai se repartindo em um passado que vai sendo somado em lembranças que permanecem. Algumas são o que vou chamar de canção de amor, músicas que unem dois corações e falam de sentimentos que se renovam através delas.

            Eu não sabia que papai e mamãe tinham uma.

           Não me lembro o dia, minha mãe manda me chamar. Meu pai havia recebido ordem médica para ficar de absoluto repouso e estava trabalhando no escritório. Saio correndo, entro no escritório e começo a conversar. Eu não sabia que a morte estava tão perto. Um tremor passa pelo corpo de Manoel de Almeida; ele se abraça a mim, eu coloco a cabeça dele em meu ombro, fico alisando o cabelo e foi assim que ele foi morrendo. Pego o corpo franzino, coloco em cima de um sofá.

          Minha mãe estava longe, no quarto de costura;  eu entro e ela pergunta: “Morreu, meu filho?”           
            Respondo que sim, balançando a cabeça e esperando a reação. Ela então se levanta e canta: 
Sempre no meu coração

Perto ou longe estarás...

          Era a música deles e eu não sabia.

         Sempre no meu coração, Always in My Heart era um filme de 1942, ano em que nasci. Somente o cinema poderia juntar duas pessoas que se amavam na Capela das Alagoas e continuaram por mais de 65 anos.

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