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quinta-feira, 23 de junho de 2016

Maravilhas do trem - Maceió - 4 - Emmanuelle Ribeiro Vasconcelos







Saímos sem maior compromisso do que entrar no trem e chegar onde possível. Terminada a viagem, eu pedi para escreverem assim que chegassem casa, as impressões que teriam ficado; eram apreensões em bruto que posteriormente seriam trabalhadas. Pedi para que a redação fosse o mais bruto possível.
                Resolvi trazer a público o que escreveram de forma bruta; grande parte de Maceió teria espanto semelhante, ao ver-se no sacolejo de um trem.
                Quero agradecer à CBTU pela forma que nos tratou; um modo simples, digno e seguro.
Vamos ver as impressões que ficaram; alguns dizem que a primeira impressão é tudo.
Pegue o VLT ou o trem e veja qual sua impressão. Abraçamos todos os trabalhadores que se empenham, em fazer funcionar o sistema em Maceió.
Um abraço.
Sávio de Almeida



 Sol e trilhos


Emmanuelle Ribeiro Vasconcelos



Em uma manhã ensolarada de sexta feira, acompanhada de amigos, tive a oportunidade e a felicidade de utilizar o transporte ferroviário, até então só o conhecia a distância. Eu que sou de uma geração do transporte rodoviário, do concreto, do asfalto, fiquei emocionada por esse instrumento de locomoção me proporcionar sensações impares. Cruzei com lugares nunca vistos ou vistos de um novo ângulo, como as cidades e bairros que ficam as margens das linhas férreas, onde algumas surgiram devido à instalação da ferrovia e que permanecem até os dias atuais. 

A minha ingenuidade me fez idealizar ainda uma máquina a vapor, ver a fumaça saindo do trem, mas lembrei de que faço parte do mundo contemporâneo, onde outros tipos de energias tomaram conta do planeta. 

Essa viagem nos trilhos de ferro e dormentes em madeira me fez refletir sobre essa individualidade, essa forma autônoma de levarmos a vida, cada vez mais colocamos carros nas ruas e perdemos a agradável sensação de estamos juntos de uma rotina conjunta cheia de aprendizagem.  

Ali naquele trem, existe uma pluralidade de personalidade, estilos de vida, interesses, que se unificam na história.  Quando olhamos para trás, na história dos vagões, lembramos que havia uma divisão de classes, onde as pessoas, com maior poder aquisitivo, utilizavam o vagão mais confortável, separados das demais classes. Hoje não nos deparamos com essas situações, todos utilizam o mesmo espaço.

Ao chegar à estação do Centro de Maceió, encontrei pessoas embarcando e desembarcando, crianças, jovens e idosos, um lugar limpo e acolhedor. Por mais modificações que tenham sofrido, nas estações ferroviárias, ainda se tem um charme, a pontualidade inglesa ainda é uma característica permanente das estações. 

A modernidade tomou conta desse transporte gracioso, a bilheteria agora é informatizada, as portas dos trens são automatizadas, os pontos de paradas, tudo mudou, mas há características que nem o tempo consegue revogar.

Senti no trem uma poesia em movimento, na forma com que as pessoas se comportam dentro e fora, o som incomparável e único do trem ao deslizar sobre os trilhos, traz para os lugares que possuem estações, um som endêmico, onde uma rotina de uma cidade acaba sendo cronometrada pela buzina do trem. 

Ao andar de trem, tive a sensação de que andava por trás das cidades, de forma camuflada e por lugares que só ele, conseguia alcançar.  A cada caminho percorrido, cidades e bairros iam chegando e outros iam ficando para trás, pessoas partiam, outras desciam em seus destinos, compondo um dinamismo de cenário, tanto no interior dos vagões quanto na paisagem externa. Algumas estações eram solitárias, com características de paisagens rurais, ali o silêncio era invadido pelo som do trem deslizando sobre os trilhos e a sua buzina anunciava a sua passagem, com a certeza que aquele som já faz parte daquele lugar, com hora marcada. 

Um transporte que levou tantas riquezas, que estreitou tantos caminhos, se depara com uma rota tão tímida, que alcança distâncias tão próximas e insignificantes, que transportam apenas sonhos e a singeleza de um povo carente. Acredito que a necessidade de um povo faz permanecer vivo esse transporte, quem sabe um dia, o trem, volte a ganhar  a simpatia dos nossos governantes e agracie os caminhos de ferro, pedra e madeira,  que vivem na solidão.

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