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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Pedaços de Alagoas. Artes Plásticas. Eduardo Bastos




A imponente Matriz da brava Cidade da Capela
Piezas. Alagoas. Artes plásticas
Alagoas Pieces
Piècis Alagoas arts plastique
Pezzi Alagoas, Arti plastiche





 Este material foi publicado originalmente em Campus/O Dia, Maceió.




Quem é quem
Eduardo Henrique Omena Bastos é artista plástico, arquiteto e professor do IFAL. Colaborador de Campus.

Dois dedos de prosa
               Novamente, trazemos para nossos leitores,  a produção do artista e professor Eduardo Bastos. Desta feita, ele lança seu olhar, trazendo maravilhas que suas mãos traçam, desta feita visitando parte de nosso Estado.

          Temos por Eduardo uma grande admiração, não apenas por ele ser um expressivo artista, mas pela figura humana que é.           

               Campus/O Dia dá aos leitores um belo presente.

               É sentar e ver como talento e método fazem com que a beleza se expresse.

               Obrigado ao Eduardo e ao amigo leitor, um grande abraço.

Sávio de Almeida


Capelinha da entrada da Capela pela ponte

I - O TRAÇO DA MINHA TERRA
Eduardo Henrique Omena Bastos

Os croquis aqui apresentados são o registro de imagens - capturadas através do olhar e da mão, pelas andanças no interior do Estado de Alagoas, algumas vezes a trabalho, outras, mais lúdicas, com o grupo do curso Design de Interiores do IFAL.


  A arquitetura interiorana, a vernácula, sempre me atraiu e fascinou e, nessas viagens, busco observar e deixar algumas marcas sobre as folhas de papel. Creio que existe na natureza humana a vontade imperiosa de exprimir essa intenção/emoção, seja riscando no solo uma cruz o local da futura construção de um edifício ou traçando com uma linha em um mapa, demonstrando aonde se quer chegar, ou ainda de maneira mais sublime, pintores como Van Gogh, Constable, os Impressionistas, Visconti, Calixto... Entre outros gigantes da História da Arte, mantinham uma relação de amor e paixão pelo lugar e suas obras influenciaram esses sentimentos no grande público.


 Imagino que o desenho deva fazer parte da fisiologia humana, o homem das cavernas muito antes de aprender a se comunicar verbalmente, desenvolveu todo um sistema de símbolos que se relacionavam com sua própria sobrevivência: a imagem de um bisão na parede de uma caverna continha a expectativa de aprisionar o espírito da caça. Depois perceberam que poderiam representar a si mesmos em cenas de caçadas ou rituais religiosos. Porque tais necessidades? Talvez o traço, seja nossa primeira reação ao mundo para nos comunicar de maneira efetiva e duradoura. Dê um lápis e um papel a uma criança na mais tenra idade e veja o que ela faz. Não pensa duas vezes e vai logo rabiscando, é instintivo... Emocional! Elas gostam!


Cada artista tem esse poder de imaginar e criar o mundo como gostaria. Certa vez disse Gombrich, um famoso historiador: “Na realidade a arte não existe. Existem apenas artistas.” Percebemos de maneiras diferentes, pontos de vistas são distintos e mutáveis, cada um carrega dentro de si um universo em construção, ou “sabe a dor e a delícia de ser o que é” (Veloso), e a arte é também uma forma de se distanciar do mundo e criar significados para ele. Minha percepção faz parte de um conjunto de experiências que são só minhas e busco fazer uso delas para criar imagens, contar histórias e criar um diário de memórias.  Como Dibutades, que desenha o contorno da sombra do amado que vai partir para guerra, traça seu perfil para que este permaneça na sua lembrança, quiçá uma maneira de aliviar a solidão e a tristeza. Tais sentimentos se expressam ao ver muitos exemplares da arquitetura da nossa terra, abandonados e mal preservados, os quais são o registro, como expressão maior, dentre todas as artes, como diria Paul Valéry, da memória de um povo.

Campus do IFAL em Satuba

Casa na área rural do Bananal, Viçosa

Convento de São Francisco em Marechal Deodoro

 II - Um Olhar para Cidade
 Pedro Caetano

Arquiteto, artista plástico e poeta nas horas vagas.

Aprender a ver ainda é uma das qualidades mais intrínsecas das pessoas que trabalham com pintura, design, arquitetura, ou escultura.

Paul Laseau nos alerta que da mesma forma que o músico deve ouvir muita música, e o escritor, deve também ler bastante, este raciocínio não deixa de ser aplicado aos que trabalham com a esfera visual.

Isto é, arquitetos, artistas e designers precisam ver muito, várias ideias, porque tudo que já foi feito, foi baseado em algo, ou em alguém, vanguarda, momento histórico...
Então como se aprende a ver?
Ora, se aprende a ver melhor desenhando.
É neste sentido que o desenho de observação ainda se faz fundamental na carreira de um arquiteto, designer ou artista plástico.
Ainda hoje damos muita importância de alimentar apenas nossa literatura verbal através dos livros, renegando nossa literatura visual.



Desenhar é aprender a ver, quanto mais se desenha, melhor se enxerga, e quanto melhor se enxerga, melhor se desenha.
Desenhar é aumentar nossa literatura visual e nosso acervo de ideias. É também educação visual.



Pelo seu caráter analítico, o desenho nos faz estreitar nossa relação com o tema desenhado, faz com que nossos olhos percorram a silhueta da forma escolhida, que vai aos poucos sendo assimilada, internalizada.

Desenhar é deixar nossos olhos caminharem pela silhueta da montanha,

da cidade,

da casa

ou da mulher.
Um desenho de observação é uma busca de se “apossar” da beleza,

de possuir o que não se pode ter... 
de tocar o que não pode ser tocado...
de ter algo que não se deseja tornar-se inesquecido.
Olhar para um  desenho antigo é acessar os viadutos da memória.



Le Corbusier costumava dizer que o surgimento da câmera fotográfica interferiu na visão das pessoas. O click é instantâneo e muitas vezes fullgás.
O instante fotográfico muitas vezes é impaciente e nem sempre possui a dimensão contemplativa de um desenho.
Desenhar é analisar, selecionar, absorver, traduzir, sintetizar...


Todas essas qualidades inerentes ao ato de desenhar estão sempre presentes nos esboços e aquarelas de Eduardo Bastos. Que nos revelam um oásis do que deve ser apreciado.


As aquarelas de Eduardo são o testemunho de uma conexão entre o artista-arquiteto e a cidade, do desenho com a verdade, da emoção diante da beleza.
São, sobretudo uma lição de que a arte está dentro de uma esfera não verbal, não lógica.

Fazer uma aquarela que imite a aparência fidedigna das coisas não faz sentido para Eduardo, seus temas funcionam como um meio através do qual algo maior se manifesta, a sua visão de mundo.
Tratam do que não pode ser descrito em palavras. Como diria Henri Matisse, “se você um dia quiser ser um pintor trate de cortar a sua língua”,
Edward Hopper também nos indica o mesmo caminho afirmando que se pudesse descrever em palavras, não precisaria pintar.
Só mesmo um poeta para achar as palavras certas para o que não pode ser dito.

Sentimentos não moram em palavras.
procuram seus silêncios, são invisíveis,
mas procuram suas imagens.

E Eduardo é um caçador de imagens
Sua arte não precisa de comentários porque fala por si,
é poesia para os olhos e alimento da emoção.

Matriz de Porto Calvo, Alagoas

Matriz de Coruripé


III - Um comentário sem título e sem pretensões.
           Gildo Montenegro
                                           Arquiteto e Professor  -Universidade Federal de Pernambuco

    Para muitas coisas há um jeito complicado de fazer, mas, em geral,  há possibilidade fazer de outro modo. A fotografia, por exemplo, é uma maneira simples de reproduzir uma praça ou um prédio. Em questão de segundos, a imagem fotográfica revela minúcias de um monumento que teriam escapado a uma espiada normal. Tudo fica gravado com exatidão notável, com extraordinária precisão.


    Por que, então, complicar fazendo esboços à mão livre que podem levar horas ou dias? Seria falta do que fazer? Ou uma compulsão pelas cores e traços? Seria um retorno às origens, um mergulho no passado, quando ainda não existia a fotografia? Que passado?


     Há muitos milhões de anos o macaco nosso ancestral achou de descer das árvores e caminhar pelo chão. A princípio meio desajeitado; aí descobriu paisagens diferentes, encontrou frutas, flores, raízes e pedras. O macaco verificou que suas mãos não mais se ocupavam de segurar galhos de árvores e que elas poderiam ter outras finalidades. Quais?


    Colecionar pedras, partir sementes duras para comer o miolo adocicado, quebrar pedras para usar como projeteis ou como raspadeiras para curtir o couro de animais, agora usado como proteção contra os rigores do inverno quando o frio chega a 40 graus negativos. Assim a mão passou a ter novos e inesperados usos.


     Ao utilizar as novas habilidades manuais e associá-las com a visão para antecipar eventos futuros, o homem desenvolveu o que veio depois a ser chamado de inteligência. Logo ele criou instrumentos que não existiam e aprendeu a pintar seu corpo. Nasceu a beleza. E a vaidade veio junta.


     Em etapas a seguir, o homem aprendeu a pintar seixos rolados, a fazer adornos para o corpo, a pintar paredes e grutas. Era o nascimento da arte.


     Seguindo outros caminhos, em sequência ainda hoje ignorada, o homem desenvolveu o ritmo musical e corporal, a língua falada, a representação simbólica, a escrita.



        Resumo da ópera:

       A fotografia é rápida e exata, porém fria e mecânica, com raras exceções. Se você aprecia a beleza, tem de ir atrás da Arte. Foi isso que Eduardo fez. Aqui para nós: com extrema habilidade ele captou a beleza de obras arquitetônicas, de prédios construídos talvez sem projeto, mas com domínio de técnica e da arte de construir.


       Em cada uma destas aquarelas o observador encontra cores, traços livres, leves e soltos. Da mesma maneira que a fotografia retém a exatidão, os desenhos de Eduardo captam o sentimento e a emoção.


       Sugere-se que o leitor não perca tempo com um texto metido a erudito e trate de desfrutar da beleza de cada esboço, imaginando-se a ver de perto e a tocar as paredes, andando em volta de cada lugar que o pincel e a mão de um artista bordaram com sensibilidade e habilidade. E lembre-se de que estes esboços não são reproduções de construções; eles são criações, uma maneira especial de ver as coisas, mais com o coração do que com o olhar. 
Matriz de Viçosa

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