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sábado, 13 de fevereiro de 2016

Aldjane Oliveira. Memória e cotidiano. Serra dos Búfalos.

Memoria e vita quotidiana Mémoire et la vie quotidianne  Memory end every day life


Professora de sociologia e mestranda em antropologia pela Universidade Federal de Sergipe


DOMAR O BÚFALO E TOCAR OS CÉUS
Aldjane Oliveira

Num dia considerado santo, numa hora tida como mágica seguiram alguns jovens para um lugar quase esquecido, praticamente abandonado. Estes jovens, mesmo sem saber, ou sem ter  certeza, buscavam algo, algo que nem eles mesmo saberiam explicar; buscavam algo que anda sendo esquecido por muitos ou pela maioria, enfim, buscavam algo, tentavam tocar os céus e  suas maravilhas que só se pode desfrutar quando se está do alto.


Numa pequena cidade da Nação Nordestina, considerada abandonada por alguns e tida como sem lei por outros... Onde tivera sido palco dos mais lindos rituais indígenas , da alegria, paz e harmonia de uma comunidade tribal, os Urupês da tribo Wassu Cocal; tivera sido também palco do surgimento de uma nova população, a Vila Urucum.


Pois bem, nesta pequena cidade há consideráveis riquezas, considerada por poucos como um presente dos céus, daquele céu agora um pouco esquecido... Há nascentes de águas claras, rios de água frias, matas de verde exuberante, há um grande animal de guarda na entrada desta pequena cidade, está lá, mostrando sua imponência, com a missão de olhar e proteger  aquele lugar, está lá o Búfalo da Serra dos juruquenses. Para o qual muitos olham e se amedrontam ao tentar dele se aproximar, estes não chegarão aos céus; outros porém tentam domá-lo, mas desistem no meio da caminhada, pois o Búfalo é forte e o homem tem seus momentos de fraqueza; já aqueles que decidem domar o animal, serão recompensados com o presente dos céus, terá visões mágicas, verão a luz magnifica que vem do alto ou melhor do agora do horizonte, saborearão dos frutos mágicos que têm sabor diferenciado e significado todo especial.


Aqueles jovens, que não sabiam bem o que estavam buscando ao tentarem domar o animal e se aproximar dos céus, percebem que diante da grandeza da criação e da beleza das cores, somos meros espectadores abençoados pela graça de poder admirar ...  E outros condenados a fazer trilhas da destruição, querendo as vezes, decidir como deuses e condenar como um juiz.


O ser humano vem ganhando cada vez mais raciocínio e perdendo cada vez mais  a capacidade de admirar a verde mãe, de ritualizar o belo da vida, de compartilhar a harmonia e o sossego, vem perdendo a capacidade de comungar, de conviver, de coexistir de compactuar com a energia vital, a natureza.


A tradição é tida para alguns como algo ultrapassado, algo que não merece atenção, algo envelhecido, mas para outros poucos, a tradição é um tipo de ritual em memória aos antepassados, é uma devoção, é um meio de tentar novamente ver com outros olhos aquilo que está posto, que nos comove, que nos inquieta.


A tradição de domar o Búfalo e tocar os céus... e comer dos frutos mágicos... e sentir a leve brisa enxugando o suor do cansaço ... e ver as maravilhas prometidas que são elas:

·        Determinação para começar a subir;

·        Solidariedade com os companheiros que têm dificuldades na caminhada;

·        Partilha dos mantimentos que eram individuais e agora são coletivo;

·        Ter belas visões que a poucos são concedidas.

De lá do alto do Búfalo ver-se um raiar de sol incomparável, uma bela vista da cidade dos mortais, pois lá do alto cometemos o pecado de nos sentirmos quase deuses por termos provados de suas maravilhas.

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