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sábado, 12 de dezembro de 2015

Pedro Cabral. A artista plástica que pinta histórias



ESTE MATERIAL FOI PUBLICADO EM CAMPUS/O DIA

A artista plástica que pinta histórias

Pedro Cabral

Artista plástico, arquiteto, professor universitário




Afirmo que Myrian Almeida talvez seja uma das poucas artistas plásticas criadora no mundo de personagens em suas telas. A mocinha tímida e um gato. Eles estão quase sempre presentes em seus quadros como se uma história fosse contada.  Não chega a ser histórias de quadrinhos, antes, conta toda uma história num só quadro. E cada obra situa o observador num cenário onde se depreende todo um sentimento vivido e que precisa ser contextualizado, situando-o no tempo e no espaço.
Ela ama a natureza. Ela é bucólica com toda a carga de um romantismo sonhado. Ela não demora em representar essa natureza. Um azul e um verde matissianos, sintetizados por ele em La Danse, definem o céu e o solo que devem ser sempre do azul mais primavera e do verde mais campestre. Uma linha curvilínea e suave é suficiente para definir o morro, demarcando o horizonte do olhar que descansa na varanda. Sempre um ambiente aberto, amplo, natural. O cenário é também uma personagem na obra de Myrian. E conta o sentimento por que passa.
E a mocinha, que me parece tímida, mas dotada de extraordinária vontade de buscar a vida, é a personagem marcante. Ela praticamente não tem rosto definido, muitas vezes de costas, mas sua silhueta a identifica, complementada por um chapéu, uma sombrinha e uma mala. E de quebra um gato que a acompanha com a mesma fidelidade de um cão.
Pronto! Ora a mocinha olha o universo de sua janela - o gatinho também olha -, ora a mocinha está decidida a partir, simbolizada pela mala e pela sombrinha. E nessa viagem para um mundo indefinido, ela senta num banquinho da praça olhando talvez a cidade, mas sem rosto e com o gatinho de costas para o urbano e voltado para as árvores. Saudades, nostalgias, aconchegos distanciados.
São obras diferentes com os mesmos personagens e apetrechos identificadores do personagem. Uma história sem fim. Uma novela da alma. Uma arte representativa da vida. O amor por um campo possivelmente maltratado, por isso a nostálgica partida.
Myrian, nesse momento, marcou seu estilo. Tanto na novidade temática em série, quanto nos traços colados, cuja simplicidade - objetivo dos grandes artistas, cientistas e poetas -, nos apresenta com a leveza da solução, como se fosse fácil fazer algo tão difícil para os outros. Ela já nasceu com seu estilo.
Mas Myrian perambula também com sua sintaxe pictórica por entre flores e madonas. De uma peça parecida com uma gota alongada, ela adota o processo da repetição compondo flores coloridas, leques românticos, painéis demarcadores. E se acerca das madonas, expressando seu lado religioso. Suas homenagens ao transcendental. Por isso, não se pode perder a oportunidade de ver, de sentir, de ter uma dessas histórias guardadas pela artista, feitas com toda a expressão harmônica de uma poesia. 

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