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segunda-feira, 11 de maio de 2015

A vida por baixo da cidade: história e cotidiano de uma capital nordestina


la vida cotidiana
vita quotidiana
everyday life
la vie quotidienne
   



Este artigo foi originalmente publicado no Suplemento Campus do jornal O Dia. Maceió, 10 a 16 de Maio 2015, ano 03, nº 115.





 
 Léo Villanova, 49, Publicitário, Diretor de criação e fotógrafo. Nasceu e vive em Maceió (AL). Iniciou sua vida profissional como ilustrador atuando em diversas publicações de Alagoas e nacionais. Cursou Arquitetura e Urbanismo na UFAL. Paralelamente aos estudos universitários já desenvolvia uma carreira como publicitário e fundou a Six Propaganda, da qual é sócio até os dias de hoje. É graduado em comunicação social e participou de vários eventos ligados à publicidade, design gráfico e fotografia como palestrante,  debatedor e ministrante de workshops 



Dois dedos de prosa

Ailton por Leo




 Dois talentos estão juntos hoje em Campus: pai e filho.  Um  jornalista e escritor é o pai; um extraordinário traço é o filho.  Faz tempo que Campus desejava trazer os dois. Agora, conseguiu e pediu ao filho para escolher e ilustrar textos do pai. O resultado está posto nesta edição e estará em futuro número.


É interessante verificar a forma como as duas escritas dialogam com a circunstância do que poderia ser chamado, no mais das vezes,  de “baixo urbano”  e como propõe a tessitura do texto com ela se fazendo  presente na forma traduzida pelo traço.


A homenagem ao Ailton não seria possível, sem a dedicação exemplar do filho e temos de apresentar, publicamente,  os nossos agradecimentos ao Leo que, sem dúvida, junto a pessoas como Ênio, Sam, Spinassé e outros abrilhantam e dão relevo à imprensa alagoana.
Luiz Sávio de Almeida


   
Maceió e sua intimidade nos textos de  Ailton Villanova


Luiz Sávio de Almeida



Sempre tive uma grande curiosidade pela obra do Nunes, plantada nas páginas da Gazeta de Alagoas e muitas vezes me dispus a trabalhá-la, seguindo os passos do Ênio Lins. Eu ficava admirado do modo como Nunes conseguia trazer à tona, através da arte e vez em quando numa linguagem ácida, a vida de uma imensa parcela da população de Maceió, especialmente da pobreza que se traduzia em  pequenos bêbados, pequenas prostitutas que viviam, por exemplo, em ambientes como o derredor do mercado. Achava que seu modo de passar pelo universo de humilhados e ofendidos, trazê-los à tona, era uma das formas inteligentes para  indicar  o drama humano percorrendo os meandros das falências estruturais.


 É em caminho semelhante, que coloco o trabalho do Ailton.  Não posso afirmar que os motivos da escrita sejam os mesmos, mas o campo por onde passa a observação, não tenho dúvida que seja. Não se trata da crônica da alta natureza urbana, mas do pequeno, achatado no dia a dia do seu cotidiano. É o que se passa em um universo de pobreza e de baixa renda e sobre a capa, o mais das vezes, do pitoresco está o detalhe de vida enunciando sobre a sociedade.
               
 É  que os detalhes estão interligados ao modo como o urbano se organiza e se demonstra e, talvez por isto, raríssimo o texto de Ailton que não contenha ação, movimento, enunciados de algum modo de estar vivendo e de fazer a vida. As gentes – vai que vai – se delineiam em tipos cujo perfil sempre é traçado para interligar a ação ao que vai além da personagem em si: sua história, sua vida, sua representação.

Faz muito tempo –  e como dizia a modinha, já nem me lembro quando –, ele estava conversando com uma pessoa lá na Secretaria de Planejamento e eu estava passando. Vira-se e diz: “Lula, eu vou escrever uma peça de teatro!”.  Guardei isto na cabeça.
Não sei se ele escreveu, não sei se manteve o propósito. Sei apenas que não esqueci e posso inclusive, dizer, que seus escritos todos têm o tom teatral, o movimento, e, sobretudo, a propriedade de fazer realidades pulsarem na escrita que por várias vezes poderia ser considerada como a crônica do que o povo costumava chamar de malfazejo.

Ailton encontrou um modo e uma forma de chegar à realidade fugidia do que muitos chamam de submundo, daquela fatia do urbano que se marginaliza das mais diversas formas e vive dramas e comédias que ao mesmo tempo são trágicas. É assim que surgem a prostituta, o bêbado, o ladrão, o antigo meganha e tantas outras figuras que vivem em ambientes também marginalizados.

É um mergulho no baixio de Maceió, e passa no fundo do poço da pobreza mais densa, daquilo que talvez na literatura marxista seria o lupemproletariado, que foi chamado de classes perigosas, mas que encontram, sobretudo,  guarida na ideia da multidão de humilhados e ofendidos. No fundo, são homens e mulheres que a moralidade pequena burguesa intenta ocultar, mas que vivem de forma diferente, em seus pecados, o mesmo vento malfazejo que as sopra em todos nós.

Não importa como e com qual objetivo eles estão nos textos de Ailton. Aliás, muito pouco ou quase nada do texto pertence ao autor.  No fundo, o autor é um permanente despossuído; o que pesa é a leitura, aquilo que se descobre por um constante e denso diálogo com o texto.  A mensagem se define na oportunidade mesma da leitura. E digo isto pelo instigante que é a leitura da teologia do Bultman.

No fundo, o que desejo  dar é apenas um depoimento e nele dizer que os textos chegam a mim como desvendamento, como escancarando aquilo que estava escondido. E nisto, o cotidiano da cidade passa por baixo das suas relações, pelo que não é visto. São textos aparentemente largados em página de jornal sem maior consequência; mas,  pelo contrário, são textos a serem lidos com cuidado e por eles passarão no futuro historiadores, sociólogos e quejandos. Serão leitura obrigatória como seriam hoje junto com os textos de Nunes.

É evidente que os textos merecem crítica e, também,  para isto são publicados. O que importa é que existem e merecem leitura e discussão. Não se publica para o elogio, embora ele possa acontecer. Publica-se para o diálogo e, nele, a crítica e a possibilidade do não-gosto.

Claro que muita coisa teria que ser discutida, passando do estético ao político. No momento, contudo, isto é o de menos;  o de muito é que ele existe e não pode ser negado, como foi  marginalizada a escrita do próprio Nunes salvo, como foi dito, o entendimento do Ênio.
Estão aí alguns textos selecionados pelo Leo. Leia e discuta. Querendo ou não, Maceió forçará seu peso sobre você.
  
 Textos do Ailton e desenhos do Leo


A insofismável constatação





     Nascido em Fernão Velho e criado em Bebedouro, o distinto Bráulio Cordulino, apesar da idade avançada, continua bastante parecido com o finado cantor de boleros cubano Bienvenido Granda. Um pouco mais pratrasmente, isso lá pela década de 60, quando Granda esteve no auge da carreira, Cordulino matou a pau o mulherio disponível. Um dia, em Aracaju, mais uma vez confundido com o cubano, ele teve de ser escoltado pela PM até o hotel, dado a que fanáticos admiradores de Bienvenido Granda o deixaram nu. Todos queriam um pedaço de sua roupa como lembrança.


     Cordulino era andejo. Vivia de biscates e era bastante hábil na atividade de eletricista. Onde quer que estivesse, sempre tinha um servicinho pra fazer e alimentar o vício da birita. 


    

 Bráulio Cordulino tinha um faro excepcional para o alcool. Sentia a   quilômetros o cheiro do produto - dom especial que só Deus poderia explicar. Onde ele sabia que tinha um evento regado a uísque, champanhe ou qualquer outra bebida, olha ele lá! 


     Em assim sendo, Cordulino se fazia presente a um evento promovido por uma certa Sociedade Protetora da Vida Humana (SPVH), na Capital da Paraíba, cuja atração principal era o ilustríssimo professor Hemetério Galistênio. Sua palestra versaria sobre os malefícios do álcool no organismo humano. Na ocasião, seriam servidos inúmeros goles alcoolíferos à quem voluntariamente se apresentasse para consumí-los.
    
- O álcool é uma peste, caros amigos! - verberava  Galistênio. - O alcool é o  flagelo da humanidade e irei prová-lo, com a colaboração dos caros voluntários.


     Dito isto, o eminente mestre pediu dois copos - um cheio de água e outro cheio de álcool -  e os colocou na sua frente. Pegou um vermezinho vivo e jogou-o no copo com água. O bicho nadou, nadou e escapou pela borda. O cientista voltou a apanhar o verme e desta vez jogou-o no copo com álcool. O bichinho se contorceu todo, não conseguiu nadar e morreu. Satisfeito com o êxito da demonsração, o cientista bradou aos seus ouvintes:

       - Então, meus amigos, a que conclusão podemos chegar depois disso?

       Lá do fundo do auditório, o Cordulino levantou-se e respondeu com voz rouca:

       - Que a gente não tem vermes.
  
Teste complicadíssimo 


     

     No distrito da Cambona, faixa territorial que liga o centro da cidade ao bairro do Bom Parto, o ilustre Beroaldo Paixão abafava. Perante o mulherio fazia sucesso, dada a sua melosidade no papo donjuanesco. Montado no  popularismo junto a galera feminina, Berô (conforme era chamado) sabia exigir. Dava sempre preferência às galeguinhas perfumadinhas e bonitinhas. Seu ponto preferido para as paqueras era a praça dos Martírios. Quando ali ocorriam festas públicas, principalmente nas épocas natalinas, juninas e carnavalescas, o cara estava sempre rodeado de cocotinhas.

     Na juventude foi estudante dos colégios Estadual, Guido, Diocesano e outros mais do seu vastíssimo repertório escolar. De todos foi dispensado por reunir  número expressivo de faltas. Banca de sala de aula nunca foi o seu forte. De  modo que, mais tarde, para poder sobreviver, teve de encarar a profissão de motorista de funerária, porque  outra habilidade não lhe havia restado como opção...

     Mas Berô continuou sempre correndo atrás das mulheres e recitando aos ouvidos das referidas, poemas de J.G. de Araújo Jorge e Cármem Garcia, seus autores prediletos. Mulher adora poesia.

     Quanto mais entrado na idade foi ficando, mais safado, ídem. Quando se deu conta do tempo, já tinha extrapolado a casa dos 40 janeiros, e a única opção feminina se lhe deparava era a Odete, malabarista de circo, que conhecera num barziho da periferia. Mais depressa do que imediatamente, amancebou-se com ela. Com a convivência, aprendeu com a mulher dominar os malabares e passou a fazer apresentações em festinhas de aniversário, batisado, etc.

     Certa noite, retornava de uma dessas festas no Tabuleiro do Pinto dirigindo o carro da Odete em alta velocidade. Aí, foi parado por um guarda federal. Enquanto lavrava a multa, o policial reparou no banco traseiro do carro uns  bastões coloridos.

     - Pra que servem esses negócios aí atrás? - perguntou o guarda.

     - É que eu sou malabarista, seu guarda. Eu uso isso no meu show.

     Dito isto, Berô pegou os bastões e começou a dar show. Primeiro com três bastões, depois com quatro, cinco, até sete de uma vez. Ele passava os bastões por cima, jogava de costas, tirava um pé do chão... enfim, deu o maior showzão.

     Enquanto Berô fazia a sua apresentação circense trafegava pelo local um outro carro com o motorista cheio de cana, mais pra lá do que pra cá. Ele olhou o Berô naquela exibição toda pro guarda e ficou assustado.

     - Meu Deus, eu tenho que parar de beber! Essa tal do teste do bafômetro tá ficando cada vez mais complicado!...

Tarde demais!




Quando foi garoto, na Ponta Grossa, o Mariano Urubá pintou as canecas. Morador da rua 13 de maio, seu ponto predileto para as molecagens era a praça Santa Teresa. Mil carreiras ele levou do tenente Sebastião Souza, dono de um centro espírita e de uma escola no local. Seu Natalício Batista, que era dono de uma serraria localizada bem  pertinho da praça, preferia milhões de vezes lidar com o cão do inferno, a ter que se deparar com o garoto Mariano. Ele era o terror!
     Seu pai, seu Ostilio, motorista da prefeitura de Maceió, cansou de aplicar-lhe corretivos severos à base do cinturão e da tabica cipó-fogo. Castigos outros, ele perdeu a conta de quantos teve que cumprir. Até completar 15 anos de  idade Mariano vivia uma vida atribuladíssima. Sua última molecagem lhe valeu a expulsão do Grupo Escolar 7 de Setembro. Aos 15 anos ainda permanecia no 3° ano primário.
     Mariano Urubá mudou de vida e de comportamento quanto foi obrigado a servir no Exército. Ah, aí foi que ele viu como era o riscado e a porca torcer o rabo.
     Aos 23 anos deixou o Exército parecendo um santo. Inclusive, é bom que se faça justiça, ele passou a ser um dos maiores frequentadores da missa na capela da Casa do Pobre. Todos os domingos era visto comungando, com a fita azul de congregado mariano pendurada no pescoço.
    O cara era outro. Bela noite de carnaval, apreciando a frevança na praça  Moleque Namorador, ele bateu o olho numa bela morena que fazia o passo na maior categoria. Foi amor a primeira vista. Seis meses depois ele a conduzia ao altar, na paróquia de Santa Teresa.
     Anos mais tarde, cidadão cheio de responsabilidade e exercendo a função de gerente de uma loja de tecidos na Rua do Comércio, nosso ilustre Mariano podia ser considerado um belo exemplo de pai e de marido. Educava os três filhos com austeridade, porque não pretendia ver em casa a repetição do que fora no passado.
     Conforme sempre ocorria, lá estava a família Urubá reunida em volta da mesa, pegando aquele rango esperto de todas as noites. De repente, Juninho, o filho caçula, abriu o bocão:
     - Papai, papai!
     E o Mariano:
     - Fica quieto, menino! Não se deve gritar assim na mesa.
     O silêncio voltou a reinar no ambiente e apenas se ouvia o mastigar dos comensais.
     Depois de algum tempo, Mariano ordenou ao filho:
     - Fale agora o que queria.
     Juninho falou:
     - Agora não adianta mais! O senhor já engoliu a barata que caiu no seu prato!  

O árbitro cavernoso


     Ele era doido para ser jogador de futebol, mas o diabo da oportunidade para mostrar a sua categoria no bate bola estava demorando chegar. Tempos depois, eis que, belo dia, recomendado pelo boníssimo doutor José Sebastião Bastos, olha ele adentrando a sede do falecido Alexandria Futebol Clube, que ficava na rua General Hermes, bairro do Bom Parto. Chegou pro presidente do clube, que era o doutor Cleto Marques Luz, e apresentou-se:
     - Doutor Cleto, meu nome é Luiz Hemetério, e aqui está uma carta de recomendação do seu amigo doutor Bastinhos...
     Cleto leu a missiva, chamou o treinador do time e determinou:
     - Aurélio, bote esse rapaz para treinar. Diz aqui na carta do Bastinhos que ele é um grande ponta direita.
     O treinador vibrou:
     - Mas que sorte, doutor Cleto! Estamos justamente precisando de um ponta...
     Bom, pra resumir a história, Luiz Hemetério foi testado em todas as posições da linha (do béque ao ponta esquerda) e não foi aprovado em nenhuma delas. Por último, tentaram aproveitá-lo como goleiro. Foi pior: saiu do treino contabilizando o déficit de 27 gols. Foi então que ganhou o apelido de Luiz Peneira.
     Mas o Peneira não desistiu do bate bola. Tanto insistiu que conseguiu uma vaga de árbitro numa certa Liga Suburbana de Futebol (lembra dessa, Bastinhos?) e a sua estréia se deu, justo, na partida Alexandria e Santa Cruz de Bebedouro, válida pelo Campeonato Suburbano. Rancoroso, o Peneira viu aí a oportunidade de vingar-se do time que o rejeitou. Roubou tanto para o Santa Cruz que teve de sair de campo escoltado pela Guarda Civil estadual (que o próprio Bastinhos houve por bem comandar, tempos mais tarde numa das suas fases mais promissoras. Mas essa é outra história, que contarei depois).
     No jogo em referência, nenhum atacante do Alexandria podia, sequer pensar em tocar na pelota, que ele marcava falta. Teve um lance que Peneira apitou pênalte. O jogador santacruzense designado para cobrá-lo, um tal de Pé de Chumbo, teve de repetí-lo umas oito vezes. Batia, o goleiro alexandrino defendia, o árbitro mandava repetir. Até que invocou-se, tomou a bola do jogador, botou mais uma vez na marca do pênalte, encarou os jogadores dos dois times e disse:
     - Como esse incompetente não acertou nenhum dos pênaltes, quem vai bater agora sou eu!
     Dito isto, marcou carreira e mandou o sapato pra frente. Gol. Só ele vibrou com o lance. Teve de sair de campo nas circunstâncias já descritas linhas acima.


O sábio tenente Antenor
 



     Lá pelos idos de 1932/33, eram frequentes as refregas entre as volantes policiais militares e o bando de Virgulino Ferreira, o legendário Lampião. Nos sertões de Alagoas, Sergipe e Bahia, quando os grupos antagônicos se deparavam era tiro pra todo lado. Invariavelmente, os cangaceiros levavam a melhor.

     Nesse tempo pelejava pelo lado da milícia alagoana um certo tenente Antenor, cujo bigode media mais de palmo e meio em cada banda da cara. Dizem que era um cabra muito malvado e seu suposto destemor sempre foi questionado. Acumulava o posto de oficial com a função de delegado de polícia na região de Delmiro Gouveia. Extremamente vaidoso, apreciava bastante vestir um "liforme" de linho branco e de tomar banhos e mais banhos de extrato francês, principalmente o "Bouquet d'Amour", que era o fino da época.
     Bela manhã, eis que o ilustre se achava mamando num charuto que não tinha mais tamanho, espichado numa espreguiçadeira instalada no alpendre da delegacia, quando adentrou o cabo Ariosto Febrônio de venta acesa e olhos arregalados:
     - Seu tenente, Lampião e a cabrueira estão chegando por aí! Eles vêm comendo um galo!
     Antenor pulou da espreguiçadeira e ordenou:
     - Reúna o pessoal, pegue as armas e vamos "se" preparar para dar combate ao inimigo. Depressa, cabo!
     O subalterno girou nos calcanhares e, quando sumia no primeiro portal, o oficial acrescentou:
     - E traga minha camisa vermelha!
     Num minuto a soldadesca estava reunida diante do comandante, que tratava de vestir, às pressas, a tal camisa. E foram à luta.
     Soldados e cangaceiros passaram o resto da tarde tiroteando. De noitinha, cessado o combate, contabilizaram 16 soldados feridos sem muita gravidade. Do lado dos fora-da-lei, apenas cinco foram baleados.
     Mais tarde, na hora do rancho, os milicianos encontravam-se reunidos, lembrando os lances da batalha, quando o cabo Febrônio chegou para o oficial e perguntou:
     - Meu tenente, que mal lhe pergunte, por que o senhor vestiu aquela camisa vermelha antes do combate?
     Sabiamente, e de peito empolado, ele respondeu:
     - Simples, cabo Febrônio... É que se eu fosse ferido na batalha, a camisa vermelha impediria que vocês vissem o meu sangue derramado e ficassem preocupados. Aí, tudo estaria perdido sem o comandante, era ou não era?
     Todo mundo concordou calado com o argumento do tenente, grande sábio.
     Bom. A vida continuou normal até o sábado seguinte, exatos seis dias após aquele episódio. E mais uma vez os milicos tiveram de entrentar os bandoleiros do velho Lampa.
     Tranquilo, como da vez anterior, tenente Antenor pediu mais uma vez:
      - Tragam a minha camisa vermelha!
     E marcharam para o "front". E tome tiro! Mais numerosos, os cangaceiros começaram a ganhar terreno. De repente, em meio ao fumaceiro de pólvora , queimada, destacou-se o grito do tenente Antenor:
     - Cabo Febrônio!
     - Pronto, meu tenente! - respondeu o subordinado.
     - Corra até o quartel e apanhe lá aquela minha calça marrom!




 












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