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quinta-feira, 24 de julho de 2014

Memória e cotidiano: um pouco da minha vida em Penedo

bahdigital.com.br


A rua da Penha: vedetes, política e costumes
Luiz Sávio de Almeida











A VEDETE E O PRESIDENTE

A música rival de A Balzaquiana aparece com Francisco Carlos, El Broto e foi muito cantada na Rua da Penha. Curiosamente, os autores eram Luiz Gonzaga e Humberto Texeira. A palavra brotinho, segundo Ziraldo – com o significado que assumiu – vem de A Normalista de David Nasser. Chama atenção o espírito carnavalesco que o Seu Lula e Humberto Texeira conseguiram produzir. O brotinho aparece em outra marchinha: Sassaricando, cantada pela Virgínia Lane, as mais belas pernas do Brasil e bem conhecidas por Getúlio Vargas. A própria Virgínia contou seus 15 anos de amor com Gêgê e garantiu que estava no Catete no dia da morte dele, afirmando que ele jamais se matou. Durma-se com um tiro desse! Ela não era bonita, mas sem dúvida suas pernas eram um vestígio da primitiva Eva, embora que, na minha cabeça, Eva devia ser automodável, ora ficando belíssima ou dragão. Adão deve ter escolhido na hora certa e a Serpente foi a primeira cafetina do mundo. Se Adão tivesse mexido em Eva sem a interferência da Serpente, haveria pecado original?
 
catracalivre.folha.uol.com.br

 Um dos grandes sucessos da vedete foi Sassaricando. Para mim, Sassaricando e a Chiquita Bacana são ícones de folia. A primeira faz surgir um verbo maravilhoso e sabe que todo mundo leva a vida no arame; a segunda, cria um poderoso ser a vestir-se com a casca de uma banana nanica e somente fazia o que o coração mandava. Resultado: para sassasaricar mesmo, somente uma Chiquita Bacana dita existencialista, palavra que nos versos é pessimamente utilizada, mas que ficou com formoso hit carnavalesco. Dessas revistas famosas, nada vi, mas sim as suas versões cinematográficas, conforme entendo que tenham sido as chanchadas. No entanto, cheguei a ver o grande Mesquitinha e acho que foi no Recreio no Rio, levado pelo meu pai que adorava o que vou chamar de burlesco, para não me referir a uma safadeza inteligente. Pois foi quando conheci o Mesquitinha e acho que eu já estava morando em Bicas, Minas Gerais, cidade perto do Rio de Janeiro.
 
 almanaquedahora.com.br


 O interessante é que não me lembro de ter visto as chanchadas em Penedo. Na certa vi,  pois nomes como Grande Otelo e Oscarito não eram desconhecidos por mim: eram os dois maiores comediantes do Brasil. Mas eu forço e forço e o cinema nacional não aparece na cabeça. Não sou especialista, mas acho que na linguagem do cinema repete-se a concepção das revistas, especialmente no que era chamado de filme deCarnaval. Repito que não me lembro dele em Penedo, aliás, eu suponho recordar que filme nacional não era tão bem visto assim pela molecada, pois o negócio efetivamente era o cowboy e os seriados, passando  pelos piratas.
guiadoscuriosos.com.br




De Getúlio, lembro de sua ida à Rua da Penha, entrando numa casa verde que ficava em frente a do pai da Dona América. Era muita gente. Fiquei vendo da porta lá de casa; não me deixaram ir. Também me lembro da ida do Brigadeiro; esse, papai nos levou e tiramos até uma fotografia. Era o Brigadeiro Eduardo Campos. Foi no aeroporto em Penedo; não recordo do que fez na cidade. A fotografia ainda existe. Getúlio e Brigadeiro ficaram na minha cabeça, com suas candidaturas em 1950.

cineconhecimento.com


















 


Existia uma marchinha de Carnaval que falava no pirata da perna de pau. É uma gravação de 1947 com Nulo Roland e o compositor era o famoso João de Barro, o Briguinha. Lembro que se cantava contra o Gêgê uma paródia dessa música. Ouvi muito também o seguinte, mas pela rádio:
Borombombom, estourou o foguete
Borombombom,  o  Gêge tá no Catete!



As vedetes que me restaram
                                                             navarandacomlanynha.blogspot.com
Luz del Fuego

As vedetes ficaram famosas no teatro de revista e durante anos representaram padrões de desejos. Uma ultra famosa foi Luz del Fuego e ela realmente era merecedora e se fez presente no imaginário penedense da época. Foi em 1944 que começou a bailar com suas serpentes em um circo no Rio de Janeiro e é aí que começa a vedete. Belíssima, dominava a cena comseu tipo nacional. Irmã de um senador da República devia ser um calo no sapato político dele, especialmente depois que publica seu diário, deixando inúmeros inconvenientes expostos, escancarados. Ela tinha cabeça e enfrentava com suas propostas públicas; não era apenas uma vedete, mas uma vedete que atanazava. É uma figura que merece um belo estudo, mas sua vida era absolutamente podada pelas senhoras que viam o pudico ser levado no deboche. Ela terminou tragicamente morta na década de sessenta, já sem a riqueza, o prestígio e a beleza.
                                                                                               retrovamoslembrar.blogspot.com
Elvira Pagã

















                                                                                                                     todosossitespravc.blogspot.com
Mara Rúbia


 









Outra mulher de cuja existência se sabia, mas que não poderia por vias oficias tornar-se penedense, era a Elvira Pagã, dita a primeira mulher a usar biquíni no Rio de Janeiro, em Copacabana, 1950; Rainha do Carnaval no Rio de Janeiro, morreu meio caduca. Era uma turma de primeira linha, como Mara Rúbia e tantas outras, consideradas assim como o diabo em pessoa. Mas elas existiam como prova de que a luxúria se fazia nas fraldas de Penedo.

 
fernandomachado.blog.br



Não chegavam ainda a me atentar. A Companhia Walter Pinto me atentou pelos anos finais dos cinqüenta e começo dos 60, com as vedetes maravilhosas em espetáculos, por exemplo, na Festa da Mocidade do Recife. Títulos como Tem Bububu no Bobobo, É Xiquexique no Pixoxó não podem sair da lembrança. Walter Pinto alterou o teatro de revista que se esboça nos finais do século XIX, teatro que em grande parte e junto com as emissoras, será responsável na montagem de um cenário de profissionalização do músico brasileiro.


funarte.gov.br
O elenco do tem Xiquexique no Pixoxó

E voltando ao sebite

s10.zetaboards.com
 


Acho este termo sebite de propriedade espantosa. Quem já viu um sebite, sabe da propriedade de aplicá-lo à mulher amostrada, exibida. O sebite é frenético, jamais para; baixa e levanta, olha e desolha... Eu particularmente acho que é um belo pássaro, estando desaparecido como a garrincha, aquela espécie de casaca de couro pequena.

     Não se escuta mais o pitiguari. É a casaca de couro que, como fala a genial música de Rui de Moraes e Silva, cantada pelo Jackson do Pandeiro vive de combinação: Cantando as duas na telha. Mas a parte da saudade de pássaros será em outro lugar. Eu gosto de mexer com música. Entendo perfeitamente as recordações que faziam o
Lincoln Cavalcante publicar uma coletânea. Minha irmã tinha uma coleção de cadernos cheios de letras e mais letras.

    Aliás, a primeira letra de música que ficou na minha cabeça – não que eu me recordasse, mas pela história repetidamente contada por minha mãe – é dá influência da II Guerra Mundial, ela levando a uma fala particular sobre o amor. Foi cantada pelo Gilberto Alves pela Odeon. A letra era de Roberto Martins. Eu não estava em Penedo, mas em Pirapora (1944), Minas Gerais e esse era tempo mesmo de guerra:


Pra mostrar que braço é braço,
Eu conquistei Cecília
Enfrentei balas de aço,
Mas conquistei Sicília.



2 comentários:

  1. Faço apenas dois reparos: a letra muito miúda para os nossos olhos já cansados e a troca do nome do Brigadeiro Eduardo Gomes pelo do neto do Arraes, este um lapso compreensível nesses dias eleitoreiros...
    Grande abraço!

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