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domingo, 20 de julho de 2014

Luiz Sávio de Almeida e Viviane Rodrigues. Um bilhete sobre as grotas do Jacitinho

Um bilhete sobre as grotas do Jacitinho


Luiz Sávio de Almeida 


Viviane Rodrigues


Viviane Rodrigues
           A evidência das grotas em Maceió decorre da ocupação desordenada de áreas  hoje consideradas de periferia, a partir do processo de urbanização que foi iniciado na década de sessenta do século passado. As causas desse processo são muito bem conhecidas e decorrem da ancoragem da pobreza tanto gerada urbanamente, como transferida do campo pelos impasses da estruturara fundiária e organização da produção agrária.

           
A periferia urbana de Maceió não pode ser considerada como algo homogêneo; ela mesma tem desníveis internos de renda muito fortes, como se pode verificar, inclusive, no Jacintinho. Para tanto, basta notar a diferença das construções que estão feitas nas vizinhanças da praça nova, a que chamam de Mirante. São residências que se assemelham às que se encontram edificadas na Pitanguinha, havendo, portanto, uma paisagem distante do grosso do Jacintinho, um bairro que se derivou, justamente, da opção pobre para residência.

            O Jacintinho – no que vamos chamar de sua parte chã –, não é homogêneo, sendo possível identificar diversas porções territoriais, cada uma com suas características próprias. Uma das divisões é vista nas partes do mercado e da feirinha, com um forte comércio, a estrutura de serviços que serve ao bairro e, inclusive, os prédios dos supermercados que são considerados grandes e que vivem ao lado dos chamados mercadinhos que vieram para substituir as antigas bodegas. 

           As bodegas foram lançadas para as ruas transversais, justamente as que levam às regiões mais pobres do bairro e, inclusive, tendem a manter a antiga imagem do balcão, o papel tosco,  a lingüiça pendurada, a venda da quarta de charque, o pão, o refrigerante que tem sua história representada no Guarina que parece vir da Paraíba. São estabelecimentos que ainda mantém a caderneta para pagamento no final do mês, a mãe mandando o menino ir buscar as precisões.

         Super, hipo e feirantes fazem um grande contexto de comércio que vara o bairro, sobretudo a partir do viaduto em direção ao Barro Duro; a feirinha, praticamente, faz a fronteira entre eles. Em direção do viaduto para o Canal 5, o comércio diminui de intensidade, ficando uma parte mais residencial. É nas proximidades do Canal 5, que fica a Grota da Bananeira, uma de tantas que fazem o lugar, devendo, desde logo ficar claro, que as grotas tendem a ser mais pobres do que a porção de cima e elas são hoje em dia, praticamente, vistas, especialmente na crônica policial, como destacadas do Jacintinho, como se estivesse sendo lançado um estigma sobre seus moradores, a maioria pessoas absolutamente dignas.

     Contexto traz hoje, duas figuras da grota, contando parcelas de vida; são entrevistas realizadas com o intuito de montar um grande painel da história do bairro e que os autores estão escrevendo para livro a ser publicado pelo Museu Cultura Periférica.

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