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domingo, 27 de julho de 2014

Rio São Francisco: a cachoeira do Paulo e do Afonso

feira, 27 de dezembro de 2011



Esta matéria foi publicada em O Jornal, Maceió, em Dezembro de 2007

A sensação de estar em Penedo é sempre agradável. Havia acabado de chegar e era noite quente. Mais ou menos dez, saio e vou para frente da Igreja da Corrente,  fazer o que os antigos chamavam de tomar um deforete.  O som, a música,  jovens bebendo e eu pensava na distância da minha Penedo para a cena.  Tudo ficou mais aceso quando, misteriosamente, comecei a ver o armazém do Fortunato,  a mamona amontoada onde uma moça havia parado sua moto vermelha. As cores confundiram-se: o vermelho da moto e o cinza da paisagem da mamona.  Neste ir e vir da moça para a mamona, o tempo passava. 


Conversava como Mário Lima,  de repente abri a pasta e comecei a ler anotações em uma caderneta. Curiosamente, uma folha trazia de volta uma conversa com um amigo, o Mauro Feliciano - mora em Sobradinho -, famoso mergulhador, aposentado. O pai foi trabalhar no concreto da Paulo Afonso; com nove anos de idade, ele começou a vender cocadas feitas pela mãe; era gente fazendo concreto, era gente fazendo secadeira, era gente comendo cocada. 

O fato é que são mais de 26 anos de mergulho, tudo começando quando uma cheia imensa empurrou trecos e mais trecos para a tomada d'água da 1ª usina. E gente foi chamada para ajudar a tirar o bagulho das grades. Eram poucos mergulhadores; é daí que Maurão foi fazer um curso e tornou-se o homem que retirou o navio São Francisco, afundado em Petrolina com uma imensidão de toneladas de pedra; o São Francisco mocou e estava empatando a vida do porto.

Maurão passou por muita coisa pesada, mas a pior de todas foi no Açude Coremas, onde foi fazer revisão nas grades. Perdeu a brecha; a corda adiantou e ele começou a rezar por São Francisco que, entendo nesta altura, seria também protetor de mergulhadores. Na hora, as nadadeiras entraram na brecha e ele subiu com vida; aflição mesmo foi  salvar o Compadre Joaquim que desceu e não voltou, colado que ficou na boca do tubo. Hoje está vivo para contar e mora na Pariconha.

Foi o Mauro quem me falou de  uma história fantásticasobre o nome da Cachoeira. E ele ouviu de uma família que sempre viveu por ali,   e que descendia do povo que contava a dita cuja história.  Tudo teria acontecido antes do Delmiro.  Naquele tempo, havia um imenso pé de manga rosa perto da Cachoeira e uma casa, onde vivia a família criadora de bode, com dois filhos pequenos, mas já em tempo de cuidar dos bichos. Eles estavam fora. Foi quando chegou um bando de gente, não se sabe se bandeirante ou inglês. Faz tempo demais. A mãe começou a chamar pelos filhos aos gritos: Afonso! Paulo! Os viajantes escutaram os gritos e o chefe delesd isse: De hoje por diante, esta cachoeira não mais se chamará Forquilha. Será Paulo e Afonso.  E assim foi feito. Rebatizada, a Cachoeira de Paulo e Afonso foi perdendo o e, como se a pessoa fosse uma só e não, conforme era naquele tempo de antes do Delmiro, uma parelha de irmão que cuidava dos bodes. Maria Lopes acha que Forquilha não era um nome feio, mas prefere Paulo e Afonso mesmo. Acha que é mais justo.

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